Financiamento climático e os caminhos para uma economia de baixo carbono no Brasil pós COP30

A COP30, que aconteceu em Belém, marca um momento histórico, não só para o Brasil, mas para o futuro da governança climática no mundo.

A COP30, que aconteceu em Belém, marca um momento histórico, não só para o Brasil, mas para o futuro da governança climática no mundo. Pela primeira vez, uma conferência desse porte aconteceu em plena Amazônia, coração vivo e simbólico da transição ecológica.

Mas, passada a euforia dos discursos e promessas, fica a pergunta que realmente importa: o que realmente vai sair do papel? Porque o planeta não precisa de mais compromissos, precisa de ação concreta, especialmente quando o assunto é o financiamento climático.

Por anos, ouvimos falar sobre metas de redução de gases de efeito estufa. Só que a verdade é que o problema já não está nas metas, mas na execução. As mudanças climáticas deixaram de ser projeções de cientistas e se tornaram o nosso cotidiano. São secas que duram meses, enchentes que arrastam casas, plantações perdidas e cidades inteiras em alerta. O futuro climático que tanto temíamos já chegou.

O desafio do dinheiro que não chega

O maior gargalo do sistema global ainda é o mesmo: o dinheiro não chega a quem mais precisa. Os recursos climáticos se perdem em burocracias, em processos lentos e centralizados, que acabam concentrando investimentos em grandes instituições. Enquanto isso, comunidades inteiras seguem lidando sozinhas com os impactos das crises.

Se quisermos resultados reais, é preciso reinventar a forma de financiar a transição verde. Isso significa criar mecanismos mais ágeis, transparentes e locais, que conectem fundos internacionais a projetos de base comunitária, com protagonismo regional e social.

A chamada "transição justa" só será possível quando o investimento chegar diretamente a quem vive o problema todos os dias: agricultores, ribeirinhos, povos indígenas, comunidades tradicionais. São eles que têm mantido os biomas vivos, mesmo diante de um modelo econômico que insiste em explorá-los.

Brasil: potência verde ou promessa adiada?

O Brasil tem tudo para liderar essa nova economia verde. Nossa matriz energética é uma das mais limpas do mundo, temos uma biodiversidade incomparável e um território imenso, com potencial gigantesco para a bioeconomia. Mas ainda falta transformar esse potencial em realidade. Falta integração entre políticas públicas, menos burocracia e mais segurança jurídica para quem quer investir de forma sustentável.

Sustentabilidade não é custo, é estratégia de desenvolvimento. É sobre gerar valor, inovação e empregos em setores que respeitam o meio ambiente. É olhar para a floresta e enxergar não apenas o que ela pode oferecer, mas o quanto ela já nos dá.

A transição para uma economia de baixo carbono passa, necessariamente, pelo sistema financeiro. Bancos, fundos e investidores precisam entender que sustentabilidade não é um selo verde ou uma pauta de marketing. É questão de sobrevivência econômica.

O mercado de capitais tem poder para movimentar trilhões em direção a projetos de baixo carbono, mas isso só acontece se houver transparência, métricas confiáveis e incentivos consistentes.

Financiar sustentabilidade é, em última instância, financiar o próprio futuro do sistema econômico. Basta observar como as mudanças climáticas já afetam o agronegócio, a produção de energia e as cadeias globais de suprimentos.

Sem relatórios públicos, auditorias independentes e plataformas de rastreabilidade, o risco é transformar o financiamento climático em mais uma vitrine de promessas bonitas, mas vazias. Precisamos de dados claros, acessíveis e verificáveis, para garantir que cada real, dólar ou euro investido em adaptação e mitigação gere impacto real na vida das pessoas e nos ecossistemas.

O Brasil no centro da bioeconomia

Temos, nas nossas florestas, a chance de liderar uma nova economia global, baseada em conhecimento, inovação e equilíbrio. Valorizar a biodiversidade sem destruí-la é o caminho. Isso passa por investir em ciência, apoiar startups verdes, incentivar o empreendedorismo local e garantir segurança jurídica a quem aposta nesse modelo.

Fundos soberanos de bioeconomia com governança compartilhada, entre poder público, iniciativa privada e comunidades, podem ser um grande passo para equilibrar impacto ambiental e retorno financeiro.

A COP30 já deixou claro que o tempo dos discursos acabou. O planeta não pode esperar por 2050 enquanto paga a conta de 2025. O verdadeiro legado deste encontro será medir nossa capacidade de transformar compromissos em investimento, investimento em impacto e impacto em uma economia de baixo carbono que gere riqueza, inclusão e resiliência.

O problema não é o gás carbônico. Somos nós, e o modelo que escolhemos sustentar. O planeta vai continuar, com ou sem a nossa presença. A diferença é que, se quisermos permanecer aqui, precisamos aprender a gerar riqueza de forma inteligente, usando os recursos naturais sem destruí-los.

Tudo o que produzimos vem do meio ambiente e é justamente por isso que preservá-lo não é romantismo, é questão de sobrevivência econômica. A manutenção da vida depende da nossa capacidade de equilibrar valor e natureza, consumo e responsabilidade. A boa notícia é que é possível fazer isso, e transformar a sustentabilidade em prosperidade real.

*Kátia Maia é especialista em sustentabilidade, consultora do Banco Mundial Brasil e PhD em Ciências Ambientais. Ela liderou políticas pioneiras no Banco do Brasil, como a Política de Responsabilidade Socioambiental, a migração de 66 prédios para energia renovável e programas de economia circular que geraram economia bilionária e reduziram significativamente a pegada de carbono da instituição.

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